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O Inferno é aqui?

Ele era muito atentado. Ele era completamente maluco. Bebia todas, fumava tudo, saia com várias prostitutas, tinha engravidado 3 mocinhas virgens e desasparecido do mapa sem deixar rastro, e nem um tostão a suas crias. Ele era foda. Fodia com todas. Na adolescência chegou a foder a mãe do seu melhor amigo e duas professorinhas.

Mas um dia a nossa única certeza da vida resolveu visitá-lo. Isso mesmo, ele móóóórreeeuuuu.

Depois de morto não teve nem tempo de pestanejar e caiu direto no Inferno. O cara era muito filho da puta e jamais conseguiria ser aprovado pra entrar no Céu, então só sobrou o Inferno pra ele; não teve sequer o direito a entrar no Purgatório, pra de repente, sei lá, acertar um mensalão com os anjos e descolar uma vaguinha no Céu. Os anjos são “cavera”, e não se corrompem de jeito nenhum.

Mal chegou ao Inferno e já avistou um velho conhecido, e como não era dos mais instrospectivos já foi logo gritando:

– O Matheus, é você? – o homem interrogado era realmente o Matheus, que deu continuidade à conversa:

– Opa. E ai? Quanto tempo, rapaz?

– Porra, Matheus, o que você está fazendo aqui? Sempre levou uma vida regrada, com filhos, emprego estável e hipoteca pra pagar. O que está fazendo no Inferno?

– Superlotação.

– “Superlotação”? Onde? No Céu?

– Isso mesmo, no Céu. Os requerimentos pra entrar no Céu estavam muito, digamos assim, “flácidos”, quase todo mundo estava entrando. Ai Deus decidiu então botar requerimentos mais rigidos àqueles que aspiram entrar no Céu, e eu não passei. A coisa está complicada. Com esse pacote novo de requerimentos acho que nem o Papa vai entrar no Céu.

– Não brinca. Mas por que não fizeram uma “revisão” dos que estão no Céu? Sabe como é, pra remanejar alguns espertinhos pro Inferno.

– Não funciona assim. Entrou no Céu ninguém te expulsa de lá, nem Deus. É direito adquirido.

– Hmm, então as coisas funcionam como na Terra.

– Nem me fale. Mas e você? Com todo o respeito, mas eu já sabia que você viria pra cá.

– Ah Matheus, seu puto, ha ha! Por isso que eu gosto de conversar contigo. Sempre sincero. E então, tem muita puta aqui no Inferno?

– Não.

– Como assim? Os padres e os pastores, e até a Biblia, sempre condenaram a prostituição. As putas só podem estar no Inferno.

– Veja bem, a Biblia é uma espécie de “Constituição” ultrapassada. A maioria daquelas condenações já não são aplicáveis, estão obsoletas. Deus está sempre renovando essas leis e requerimentos.

– Por quê?

– Se as leis da Biblia fossem seguidas com rigidez, um monte de gente bacana acabaria indo para o Inferno, ai Deus resolveu interferir sempre que necessário. Você está vendo o John Lennon, o Jim Morrison ou a Janis Joplin aqui no Inferno? Pois então…

– Seria uma puta sacanagem mandar esses caras pra cá, mas por que as prostitutas vão para o Céu?

– Essa é a profissão mais antiga do mundo, mas depois de um tempo Deus interpretou que as prostitutas são apenas vitimas do sistema capitalista e de todo o consumismo desenfreado, e da adoração ao dinheiro e à fama que existe na Terra. Deus decidiu então punir todas as pessoas responsáveis diretamente no desvio de conduta das prostitutas. Isso inclui os pais, os professores, maridos, namorados e etc.

– Caralho! Quer dizer que as prostitutas vão pro Céu, e a mãe, e até os professores delas vêm ao Inferno?

– Correto.

– Puta que pariu. Mas que já que estamos falando em mães e em putas, e os politicos? Os politicos vêm todos pra cá, certo?

– Ahaha! Nunca. Os politicos são ótimos oradores, Deus reserva um lugar especial pra eles no Céu, pra depois ele reencarnarem como bispos e padres de Igrejas.

– Perai. Então esse negócio de reencarnação existe?

– Existe, mas é utilizada apenas em casos extremamente necessários. Não é tão simples como ensina a doutrina espirita.

– Sei. Mas por que Deus está barrando geral a entrada no Céu, além desse problema de superlotação?

– Aquecimento global.

– Ah, que porra é essa? Como assim? O aquecimento global é o culpado disso tudo?

– É. Depois que Deus viu o filme “Happy Feet” Ele ficou muito frustrado com a galera da Terra, ficou irado quando viu os pinguins naquela situação, ele percebeu que a galera tá fudendo com tudo e resolveu castigar geral. Qualquer pessoa que tenha dado alguma contribuição para o aquecimento global vem pra cá, pro Inferno. Isso inclui pessoas que usavam aerosol, carros poluentes e etc.

– Caralho, não vai sobrar um, meu irmão! Mas como assim “depois que viu o filme Happy Feet”, Deus precisa de filme pra saber o que anda rolando na Terra? Mas Ele não é o que tudo vê?

– Ele anda tão ocupado ultimamente que quase não sobra tempo pra cuidar de certas coisas. Sabia que era para o filme “Cidade de Deus” ter ganho o Oscar? Deus mudou a cabeça dos criticos e o filme acabou perdendo.

– Fala sério, Matheus. Você tá de sacanagem. Mas não dizem que Deus é brasileiro? Porra, “Cidade de Deus” é um puta filme, merecia.

– É, mas ele teve uma conversa com sua Assessoria de Imprensa Divina e chegaram à conclusão de que o filme associa uma imagem negativa ao Seu nome. Quero dizer, um filme chamado “Cidade de Deus” onde todo mundo leva chumbo no lombo não é uma boa associação com o nome Dele, sabe. Por isso vetaram.

– Pô, que merda. Mas me diz, o que tem de diversão aqui no Inferno?

– Olha, não tem muita coisa, aqui é o Inferno afinal de contas. Temos direito a banho de lava de vulcão às 4 da tarde, dá pra se divertir também apostando em qual novato vai chamar a “mãe” na primeira noite. Se você quiser alguma coisa tem que falar com o Vermelho, aquele ali no canto, ele consegue qualquer coisa pra você, desde cigarros do capeta até revistas infernais.

– Pô, manero! Já que eu tô Inferno então posso zoar com todo mundo, né. Posso me drogar à vontade, fumar pra caralho, beber pra cacete. Certo?

– Mais ou menos. Só se você fizer amizade com os guardas e com o Tinhoso. Você está aqui pra pagar seus pecados.

– Putz. E como eu vou pagar meus pecados?

– De várias maneiras durante o tempo todo. De manhã os guardas dão surra de chicote em todos, depois tem uma sessão de tortura musical onde fazem você ouvir “Fall Out Boy” durante 2 horas seguidas. No almoço os guardas jogam a comida no chão, mijam em cima, e te chicoteam enquanto você come. Depois do almoço tem sessão de tortura com navalhas e agulhas, cadeirada na cabeça, madeirada na nuca, choque de 250 volts na cabeça. E pra finalizar à noite eles te fazem ver o programa do Gugu.

– Porra, tamo fudido então.

– Mas pense bem, poderia ser bem pior.

– Porra, Matheus, tá de sacanagem. Nada é pior que toda essa rotina de tortura.

– Sim, poderia ser bem pior.

– Matheus, nada pode ser pior que o Inferno!

– Pode sim. A gente poderia ter sido mandado pra Argentina.

– É… pensando bem… até que não estamos tão fudidos assim.

Como vai, Galisteu?

– Só faltam três números: o 56, 42 e 37 – disse minha mãe, enquanto acompanhava um programa de tv e eu saboreava uma coxinha com café.

– Três números pra quê? – retruquei.

– O horário já está certo, 11 horas. Falta só acertarem os minutos.

– E dai?

– Dai que eu passei a semana toda anotando os minutos, e somente esses três números não foram falados.

Ai que eu comecei a entender. Minha mãe estava acompanhando o programa da Galisteu, e o jogo em questão era o jogo do relógio. Eles mostram um relógio, sem os ponteiros de horas e minutos, e a pessoa deve acertar as horas e os minutos. Algo do tipo “tá quente, tá frio”. O ponteiro das horas o pessoal acerta rapidinho, o problema é o ponteiro dos minutos, pra ganhar é preciso muita sorte ou ficar anotando todos os minutos que já sairam, como fez minha mãe.

– Eu vou ligar lá – disse minha mãe, já indo em direção ao telefone.

– Vai lá.

– Ai, mas eu vou ficar emocionada se falar com a Galisteu, vou começar a chorar. Ai ai, eu posso até falar o número errado, ou falar “alô”.

– Qual o problema do “alô”?

– Meu filho, você não pode dizer “alô” quando a Galisteu atender, se dizer você perde a chance de participar.

– O que a pessoa deve falar então? – perguntei, já que eu nunca tinha visto o programa da Galisteu. Eu tinha abandonado a vida de vagabundo, e só estava na casa naquele horário porque tive folga na empresa.

– Ela deve falar: “como vai, Galisteu?”.

– “Como vai, Galisteu?”, entendi.

Percebendo o nervosismo de minha mãe, e como eu já sabia dos comportamentos anômalos que ela costumava ter quando ficava nervosa, resolvi ajudar:

– Quer que eu fale com ela? A senhora me passa o número que eu tenho que falar e pronto.

– Faz isso então, filho.

Peguei o telefone e liguei. Uma voz do outro lado atendeu, e pediu que eu aguardasse. Enquanto isso eu acompanhava a televisão e começava a ficar excitado com o jogo. Só faltavam três números, se alguém falasse o número correto antes de nós, tudo estaria perdido, e se nós não acertassemos o número também perdiamos. Mas o Universo estava a nosso favor, e eis que eu ouço na tela.

Adriane Galisteu: Alô?

Sujeito desconhecido, que não era eu: Como vai, Galisteu?

Adriane Galisteu: Eu vou bem, e você? Fala de onde, e qual o seu nome?

Sujeito que saberemos o nome agora: Meu nome é Elias, e falo do Pará.

Adriane Galisteu: Muito bem Elias. Um prazer falar contigo, abraço ao povo do Pará. Preparado, Elias?

Elias, do Pará: Preparado.

Adriane Galisteu: Vamos lá. Qual a hora?

Elias, do Pará: Onze horas.

Adriane Galisteu: Onze? Será? Qual a hora, relógio?… muito bem Elias, são onze horas. E agora, os minutos?

Elias, do Pará: Trinta e sete minutos.

Nessa hora eu gelei, pois o número 37 não tinha saido ainda, se o Elias acertasse, a brincadeira acabava. Eu estava entupido de adrenalina. Nunca pensei que um jogo simples daquele fosse me dar tanta emoção. É, os velhotes sabem se divertir.

Adriane Galisteu: São trinta e sete minutos, relógio?… (expectativa)… não, ahhhhh, que pena Elias. Obrigada pela participação. Próxima ligação.

Meu Deus, eu estava com a adrenalina a mil. Afinal de contas, só faltavam dois números e o prêmio para quem acertasse era de mil reais. Já pensou ganhar milzinho assim de boa, só pra acertar um número fantasma num relógio fantasma.

Adriane Galisteu: Alô?

Um idiota do outro lado da linha: Alô?

Adriane Galisteu: Óoooo que pena, você não pode dizer “alô”. Não vai poder participar. Próxima ligação.

Na hora eu ri muito. Como pode um idiota ser tão idiota. Não podia falar “alô”, ou “oi” ou qualquer coisa do gênero. Só valia “como vai, Galisteu”. Depois disso mais duas pessoas participaram e falaram números repetidos. Do meu ponto de vista, isso é uma tremenda idiotice, falar número repetido. Era só ficar anotando os números. Falar número repetido é babaquice.

Eu quase tive um orgasmo quando a Galisteu atendeu um sujeito do Rio de Janeiro que falou o número 42, e o grande relóginho falou que o número estava errado. Caramba, era meu dia de sorte. Só faltava o 56. Dos 60 minutos possiveis do relógio, já tinham saido 59, e o minuto 56 era o único que faltava pra sair. Eu já estava na linha há um bom tempo, e já sabia o número vencedor, 56, só faltava ser atendido.

Nesse momento, uma luz divina pousou em minha casa, e eu escuto a Adriane Galisteu falar “alô” na televisão e no meu telefone ao mesmo tempo. Meu Deus, ela tinha me atendido, não era alucinação. Eu estava participando do programa, e dentro de 30 segundos seria dono de pelo menos uma fatia dos gordos mil reais. Minha mão quase enfartou quando percebeu que a Adriane Galisteu tinha nos atendido, e que nós sabiamos o único número que faltava ser sorteado.

Eu olhei pra minha mãe, com um sorriso enorme, que só um cara que vai ganhar os mil reais mais fáceis de sua vida consegue ter. Minha mãe retribuiu com uma baita risada de felicidade e palminhas de alegria.

Eu só tinha que dizer “como vai, Galisteu”, de repente falar alguma gracinha pra Galisteu, e falar o glorioso 56, que passaria a ser meu segundo número favorito, perdendo só para o 69. A Galisteu repetiu o “alô”, e eu, com todo o fôlego que um idiota pode ter, gritei:

– Alô?

Game Over.

– Porra, você tá gorda hein, mulher – ele disse aquilo num momento de pura inspiração, e sem lamentar os consequentes choros e gritos que essa frase poderia despertar.

– O quê? – ela não acreditava no que tinha acabado de ouvir.

– É, pombas. Você tá gorda pra caralho. Precisa de um regime urgente.

– O quê? Vai se foder, seu veado.

– Tô falando sério. Porra, as mulheres quando são crianças ficam o tempo todo usando batom da mãe, e os brincos da irmã mais velha. Ai quando ficam velhas não se importam mais com a aparência. Que porra é essa? – ele parecia gostar dos seus insultos e da linha de raciocinio escrota e Freudiana.

– Vai tomar no cu, cara. O corpo é meu, porra. Se eu tô gorda, o problema é meu também – nisso ela saiu do ambiente onde ambos dialogavam, e foi para a sala vizinha. Mas isso não impediu que ele continuasse com sua filosofia de homem-macho-escroto?-pra-caralho:

– Só estou sendo sincero. As mulheres reclamam que os homens nunca são sinceros. Eu sou um homem sincero. E tem mais: teu cabelo também não tá legal. Muito curto.

Lição de vida #1: Esse tipo de insulto é capaz de transformar a mais doce e calma da mulheres, numa sádica com um arsenal ilimitado de crueldades, que vão desde chute no saco, mijo na cerveja que ficou pela metade na geladeira, panelada na cabeça, greve de sexo por tempo indeterminado, chifre, espalhar boatos de um suposto nanismo peniano do agressor, espalhar boatos de um suposto lado homossexual do agressor, dentre outras maravilhas que somente uma mente feminina (muito frustrada!) consegue imaginar.

– Alguém já mandou você tomar no cu hoje? – foi a resposta mais defensiva que ela conseguiu achar.

– Não estamos falando de mim. Estamos falando de você, gorduchinha.

Lição de vida #2: Chamar uma mulher de gorda, e sobreviver para contar os detalhes da experiência já é um milagre. Agora chamar uma mulher de gorduchinha é pedir pra ter a cabeça decapitada.

– Vai pra puta que pariu! – ela gritou com toda a força que uma mulher em um ataque de fúria consegue ter, e já ensaiava as primeiras lágrimas de um choro longo e dramático.

– Porra, mulher, desencana. Você tá gorda e teu cabelo tá horroroso. A culpa é minha, por acaso?

Nesse instante o telefone tocou, e ele correu atender:

– Alô? Oi mãe, tudo bem?

Quando ela ouviu isso, foi logo dizendo:

– Conta pra ela o que você acabou de me dizer.

– Pois é mãe, eu falei pra Cláudia que ela está gorda, e agora ela ficou puta da cara comigo. É possivel uma coisa dessas?

Sua mãe respondeu:

– Meu filho, você nunca pode dizer essas coisas pra uma mulher, porra – sim, a mãe dele gostava de utilizar palavras esteticamente incorretas em seus discursos.

– Mas mãe, eu estou certo. Ela está gorda e com um cabelo ridiculo.

– Você troçou do cabelo dela também? Ai meu Deus, você não entende nada de mulheres mesmo. Meu filho, as mulheres não são iguais aos gordos fracassados que jogam futebol com você. Elas levam isso a sério.

– Mas mãe, eu só estou sendo sincero. Que mal há nisso?

– Meu filho, a sinceridade tem limites. Só um filho da puta fala pra uma mulher o que você acabou de falar pra ela.

– Mãe, eu só estava sendo sincero.

– Deixa disso, e pede desculpas pra ela imediatamente.

– Não, mãe, isso nem fodendo.

– Não fale palavrões, seu bosta.

– Desculpa mãe. Eu não posso retirar o que eu disse, a menos que eu mude de opinião. E eu não mudei de opinião, pois ela continua gorda e com um cabelo ridiculo.

– Meu filho, nessas situações nós temos que ceder. Você não deveria ter falado aquilo pra ela. Você errou. Peça desculpas.

– Não peço, mãe, com todo o respeito.

– Filho, pede desculpas pra ela, vai.

– Não posso.

– Meu filho.

– Fala, mãe.

– Larga mão de ser um veado filho da puta, e vai logo pedir desculpas pra tua irmã.

 

P.S.: você acha que já nasceu algum homem macho o bastante pra chamar a própria mulher de gorda? Naaaaaaa…

O assassinato de James Dean

– Porra, essa merda no lugar do Seinfeld? Os caras desse canal são um bando de filhos da puta. Quem assiste essa merda de Scrubs?

O cara era assim mesmo. Ficava puto quando chegava em casa e sua série favorita, Seinfeld, não era exibida.

– Quem assiste essa merda de Scrubs? – repetiu a pergunta à sua esposa.

– Não sei – respondeu sua esposa, com um tom de indiferença.

– Esse J.D é um veadinho do caralho. O sonho dele é dar pro médico fortão e estressado. Que lixo de série. Ainda botam essa merda no lugar do clássico Seinfeld. E essa loirinha então? Que puta.

Sua esposa já estava acostumada com as TPMs Seinfeldianas de seu marido. Ocorriam uma vez por semana, quando o pessoal do canal resolvia sacanear e botar outra série no lugar de Seinfeld. O sujeito era viciado em Seinfeld. Pra ele não era apenas um seriado, era um estilo de vida. Ele parava tudo às 19h30 para assistir Seinfeld. Se estivesse dando uma com a mulher-samambaia, ele pararia tudo para assistir Seinfeld.

– Assiste um dos DVDs da série – recomendou sua esposa, já que ele tinha metade da série em DVD.

– Ok. Mas amanhã eu vou entupir o email desse maldito canal. Ainda mais agora que estão passando justo a temporada que eu não tenho em DVD.

Sua mulher ouvia tudo calada, da cozinha. Ela bebeu um copo de água e resolveu ir para o quarto, pra acessar a Internet.

– Aham, achei. Vou assistir esse episódio aqui, onde o Kramer ganha uma bicicleta da Elaine, e Newman paga de Rei Salomão – gritou o cara, dando gargalhadas sozinho.

Passado algum tempo, sua esposa resolveu buscar um copo de leite na cozinha. Na volta seu marido a chamou até a sala:

– Vem cá, amor, vem cá.

– O que foi? – respondeu sua esposa.

– Tá vendo essa loira ali? A mãe do Jerry Seinfeld?

– Sim. O que tem ela?

– Ela já namorou o James Dean. Acredita?

– Nossa, que legal – sua esposa respondeu, novamente desinteressada.

Quando ela já estava entrando novamente no quarto, seu marido grita da sala:

– Ei, você daria para o James Dean?

– O quê? – retrucou, quase sem acreditar no poder que seu marido tinha de formular perguntas idiotas.

– O James Dean. O ator.

– Querido, hoje ele estaria com uns sessenta anos de idade.

– Eu sei, mas eu me refiro ao bonitão que fez sucesso.

– Ah, o da foto? Claro que sim – respondeu e se enfiou para dentro do quarto, pra evitar uma discussão banal, que já começava com necrofilia.

O marido ficou encafifado. Putz, e se na empresa dela acabarem contratando um estagiário parecido com o James Dean. Putz, ia dar merda. Era capaz dela liberar pro rapazinho.

– Porra, que puta – resmungou, e saiu de casa rumo à locadora de DVDs.

Na ida resolveu ligar para seu primo, o Luizão. Fazia tempo que ele não falava com o Luizão, e se soubesse que ultimamente o Luizão andava paranóico e complemente chapado 25 horas por dia – dia de 24 horas é coisa de careta -, talvez ele não tivesse feito a ligação.

– Quem tá falando, porra? – respondeu Luizão, do outro lado da linha.

– Sou eu cara. Não tá reconhecendo?

– Porra, tô sim. E ai cara, beleza? O que manda?

– Cara, acho que minha mulher anda me traindo.

– Porra cara. Que merda é essa, primo? Desenrola esse caô ai. Que parada é essa? – Luizão respondeu, já exaltado e furioso.

– Perguntei se ela topava dar para o James Dean e ela disse…

– James Jeans?

– Hehe, não Luizão, James Dean, o ator famoso.

– O cara é ator então. Primo tá onde?

– Perai Luizão.

– Tá onde, porra?

– Vou passar ali na locadora da Dória. Sabe onde?

– Caralho, tô aqui pertinho. Segura as pontas.

– Não Luizão, não. Alô? Luizão? Filho da puta. Desligou.

Na cabeça dele tudo foi um papo normal. Na cabeça de vento dele, todos conhecem a cultura americana: James Dean, Cosmo Kramer, George Lucas, Star Wars. Sem esquentar a cabeça, ele entrou na locadora e escolheu um filme bem americano.

Enquanto isso, o Luizão estava ligando pro dono do morro onde ele comprava drogas.

– Alô? Zainha. É o Luizão. Preciso de um favor.

– Fala, peixe – respondeu Zainha, do outro lado.

– Preciso de uma arma. Preciso desenrola um caô pro meu primo. Caso de adultério, irmão. Não quero essas merda na minha familia não.

– Calma, peixe. Que caô? Solta o papo, porra, não faz suspense não, caralho.

– Porra, cara, a mulher do meu primo tá dando pra uma ator famosão ai, tal de Jeimes Jeans. Preciso de um berro, pra passar o calhorda.

– Tá louco, irmão? Passa ator famoso? Isso dá uma puta bosta pra nóis do movimento, caralho. Os hômi sobe o morro na ira atrás de nóis. Desencana. Esse caô num desenrolo nem fudendo. Vaza – respondeu o traficante Zainha, e desligou o telefone.

– Merda – Luizão consigo mesmo, indignado.

Quando Luizão chegou na porta da locadora, encontrou seu primo entrando no carro.

– O primo. Hei! Perai.

– Ô Luizão. E ai, cara?

– Porra, que merda é essa? Tua mulher tá fazendo hora extra com outro cara. Que merda é essa, irmão?

– Calma cara, já desencanei.

– E o Jeimes Jeans?

– Hehe, é “Din”. Mas relaxa Luizão, o cara já morreu faz tempo. Não sei porque motivo encanei com isso. Deixa pra lá. E a familia?

Nisso, o Luizão já tinha virado as costas e estava indo embora, sem dar atenção ao seu primo e totalmente puto da cara com toda a brincadeira. Que merda era aquela? Por que seu primo havia inventado a história do James Dean?

– Se cuida, Luizão – recomendou seu primo, mas Luizão não lhe deu atenção.

Já no carro, Luizão conversava consigo mesmo:

– Que porra foi aquela? O cara nunca me liga, ai quando liga sai com um caô que não ocorreu. Porra, tem gambé nessa história. Puta que pariu, meu primo é informa dos hômi. Caralho, tinha P2 naquela porra de estacionamento da locadora. Porra, o caras descobriram minha ligação com Zainha. Zainha?

Nisso, ele puxou do celular e contactou o Zainha:

– Alô? Zainha, é o Luizão de novo.

– Fala, peixe – respondeu Zainha, com a mesma indiferença do telefonema passado.

– Cara, lembra do caô do meu primo que eu te falei agora há pouco? Então, cara, era emboscada dos hômi.

– Que porra é essa, irmão? Tá maluco? Primeiro tu me pede pra passar ator famoso, e agora teu primo é informa dos hômi. Desenrola, peixe. Tô na ira já, tô na ira, porra.

– Calma Zainha. O cara veio com o papo do ator e depois me falou que o ator já morreu faz tempo. Que porra é essa? Acho que ele queria me encontrar mesmo. Acho que ele me vendeu pros P2. Eles descobriram nossa treta.

– Porra, Luizão. Ator famoso eu não passo, mas teu primo eu passo. Desenrola melhor esse lance. Investiga ai essa porra.

– Pode deixar, Zainha. Fé em Deus. Vou desligar. Abraço.

Duas semanas depois, o Luizão concluiu que seu primo era informante da policia e resolveu matá-lo. Depois disso, nunca mais seu primo se irritou com a sabotagem feita ao Seinfeld no canal de televisão. Aliás, acho que talvez ele pôde até conversar com o próprio James Dean, e checar se o interesse era mútuo, no lance da sua esposa.

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Nem Cica, nem Flávia Alessandra, nem Mulher-Samambaia e nem a última capa da Playboy. A mulher mais linda do Brasil é a Marina Person. Calma lá, eu não assisto MTV, e se estou zapeando eu paro só pra ver a deusa Marina Person.

Calma ai, javali. Talvez anos intensos de filme pornográficos com peitos grandes que tinham atrizes, tenham te deixado meio mal acostumado quando o assunto é mulher.

O grande erro na hora de elencar as mais bonitas é não levar em consideração várias variáveis importantes do processo.

Pra começar, não adianta ser a Maria Fodona se você não consegue sequer estabelecer uma linha de raciocionio simples com a fêmea. Correto? Cérebro conta, amigo.

Pra facilitar, eu vou colocar a lista dos motivos que fazem de Marina Person a mulher perfeita:

  • Ela é inteligente. Porra, amigo, isso faz uma diferença do caramba. Mas mulher nerd também é uma bosta. A Marina Person caminha nos dois mundos. Tenho certeza que ela é capaz de apontar falhas heurísticas na moral Kantiana e em seguida comentar a tabela do brasileirão, a melhor opção pro meio-campo do Flamengo, e o último porre da Amy Winehouse.
  • Ela é linda. O rosto dela é simplesmente perfeito. Os olhos de jabuticaba dela são tão lindos que fariam Michelangelo repensar seus conceitos sobre obra de arte. Nenhuma mulher desse planeta possui olhos tão lindos e perfeitos quanto os de Marina.
  • Ela é artista. Resumindo: ela não deve ligar muito pra essa coisa de materialismo exarcebado e consumismo besta. Resumindo mais ainda: não faz mal se você é um durango. Os artistas estão preocupados com coisas mais essenciais. Com questões mais profundas. Amigo, isso faz diferença.
  • Ela é magra. Nunca namorou uma magrinha? Então você não deve ter entendido esse item.
  • Ela é meiga…

Porque ela é uma deusa.

O bichano é uma máquina de caçar e matar, por DNA e definição. Os gatos existem há milhares de anos, e são parentes dos cruéis e fodões: puma, tigre e toda aquela cambada que passa o dia estraçalhando lebres no Nat Geo. O gato também tem em seu DNA o instinto de caçador e fodão. Suas garras são afiadas e retráteis: high-tech; o bichano consegue cair sempre em pé e é mais flexivel que as magrelinhas da ginástica artistica romena. O gato estaria vivendo todo seu potencial se tivesse que caçar seu café da manhã, almoço e jantar. Os gatos seriam completos se continuassem na selva, em ambiente selvagem. Os gatos estariam satisfeitos consigo mesmo, por estarem vivendo na plenitude total.

No entanto, o ser humano – que tem o costume de degradar tudo em sua volta – transformou o felino num vagabundo irremediável. O gato perdeu o caráter e hoje só vive pra comer e dormir. Não pensa em mais nada e desenvolveu técnicas de chantagens e troca de favores que fazem inveja ao pessoal do Senado.

Os gatos, que antes formavam um exército cruel e sofisticado, hoje não passam de um bando de vagabundos charmosos.

Fodemos a vida dos gatos! Hoje eles não passam de talentos desperdiçados; potencial estagnado; vidas vazias. Parabéns pra você que tem um bichano em casa.

Os gatos só vivem na vadiagem hoje em dia. São “forgado” pra caramba. Aprenderam a arte da chantagem e vitimização. O bicho é tão filho da puta que sabe quando está em vantagem. Ou você consegue negociar contra aquela bolinha de pêlo de olhar meigo e inocente? O gato antes usava as garras; agora usa o charme. De samurai a gigolô. Belo progresso!

Se os gatos soubessem ler, provavelmente leriam Roberto Shinyashiki, pra tentarem descobrir o que deu errado na vida deles. Eu digo o que deu errado: nós fodemos a vida deles.

Nós, não. Você, que tem um bichano em casa.

A última degradação imposta aos felinos ocorreu na propaganda da Whiskas. Que merda é aquela? Um gato andando normalmente pela casa e de repente ele imagina que um rolo de lã é na verdade um rato de lã!? O que aquele gato fumou antes do comercial? Que merda de droga deram pro gato? Porra, o cara precisa ser muito doidão pra imaginar que um rolo de lã é um rato.

Qual será a próxima degradação imposta aos gatos? Terão seu próprio Big Brother só com bichanos? Ensinarão os gatos a tocarem pandeiros, pra em seguida formarem o primeiro grupo de pagodes só com bichanos (acredito que cantarão melhor que qualquer grupo de pagode que já existiu) ?

Se você tem um gato em casa, parabéns, você está estuprando diariamente o potencial do animal mais habilidoso da natureza. Feliz agora?